A PBD inicia a partir da identificação de um problema educacional encontrado em ambientes reais de aprendizagem. Essa identificação pode ocorrer em colaboração com professores, pesquisadores, gestores e profissionais envolvidos. Após a identificação, preconiza-se a investigação do problema (buscas na literatura, investigação em campo, conversas com pessoas envolvidas com o problema, entre outras ações), de forma a compreendê-lo. As informações levantadas sobre o problema serão relevantes para guiar o desenvolvimento de um protótipo de solução. Assim, desenha-se um plano para guiar a construção de um primeiro protótipo de solução. Após, o protótipo é aplicado no contexto de pesquisa, por meio de uma intervenção. O último momento consiste na avaliação e reflexão da intervenção, bem como de todo o processo. Ressalta-se que a avaliação e reflexão podem ser realizadas constantemente ao longo da pesquisa, e não apenas ao final. Salienta-se, também, a possibilidade de realizar ciclos iterativos, aprimorando as fases realizadas de acordo com os resultados obtidos.

O projeto, que foi realizado no Colégio Medianeira da cidade de Santiago, Rio Grande do Sul (RS), explora a concepção dos estudantes em relação à articulação entre os saberes das Ciências da Natureza, além de elaborar, aplicar e avaliar um artefato construído por meio dos pressupostos teórico-metodológicos da PBD, aliando aspectos teóricos da pesquisa em educação com a prática educacional. Dessa forma, foi possível identificar e elencar os desafios encontrados na realização de atividades interdisciplinares.

A acadêmica afirma que a ideia em realizar uma PBD surgiu ao cursar a disciplina de Abordagens Metodológicas para o Ensino de Ciências e Matemática I do Mestrado Acadêmico, durante o segundo semestre de 2018. A disciplina foi cursada no mesmo período em que se realizava atividades experimentais junto a estudantes no laboratório de ciências da escola em que a pesquisa foi desenvolvida (Projeto intitulado LabMaker). Esse tipo de pesquisa apresenta uma flexibilidade em adequar-se ao ambiente a partir do acompanhamento dos estudantes perante cada fase do estudo. Dessa forma, é possível modificar o planejamento inicial e realizar ciclos iterativos de acordo com as variáveis e características contextuais de cada local.
O projeto passou a ser desenvolvido no ano de 2018, a partir da identificação e análise do problema e da investigação realizada pela pesquisadora, professores e comunidade escolar. A proposta de Raquel era aproximar as três disciplinas das ciências da natureza: Biologia, Física e Química, do 1º ano do Ensino Médio. Essas matérias estavam trabalhando conceitos próximos uns aos outros, mas não havia uma comunicação clara entre elas e, portanto, os saberes estavam fragmentados. “Nossa ideia era fazer com que os estudantes enxergassem e tivessem uma visão geral das Ciências da Natureza, ou seja, que eles pudessem ter a consciência de que os fenômenos, na realidade, acontecem envolvendo conceitos das três disciplinas em conjunto. Tudo acontece de uma maneira dinâmica, de uma maneira conjunta na realidade. Era isso que a gente queria mostrar para os estudantes, que o que eles estudam na Química, é relevante para compreender aspectos da na Física em determinados assuntos, determinados fenômenos. Sobretudo, que é importante utilizar os saberes de outras disciplinas, conectar os saberes em prol de uma melhor compreensão dos fenômenos”, afirmou a pesquisadora.

A dissertação consistiu a partir de encontros entre os integrantes do grupo de design. Dessa forma, a pesquisadora promoveu a articulação e comunicação entre os participantes, com objetivo de conversar com cada um nos horários de preferência dos professores e/ou da orientadora, e repassar a conversa aos demais integrantes. “Para o projeto se consolidar foi preciso a parceria, a colaboração estabelecida entre a Universidade, representada por nós pesquisadores, eu e minha orientadora e a receptividade (abertura) que nós tivemos da escola, em especial dos professores das disciplinas que nós trabalhamos. Exercemos o tempo inteiro junto com esses professores, de forma a pensar num artefato, numa estratégia que permitisse a articulação entre os saberes da Química, Física e Biologia naquele ano escolar”, destaca Raquel.

Com a avaliação do processo e o redesign, notou-se que os estudantes ocupam mais dos conceitos quando exercem os trabalhos. A pesquisadora afirmou que foi elaborado um artefato, o qual consistiu numa sequência didática sobre a temática Radiações e Radioatividade. “Conseguimos explorar essa temática de forma a contemplar os conteúdos que estavam sendo trabalhados pelos professores das três disciplinas (Biologia, Química e Física). A partir disso, nós buscamos articular os saberes envolvidos, de forma onde mostramos aos alunos que a ciência acontece em conjunto”, finaliza.
O projeto concluiu que existem muitas potencialidades em realizar a PBD para trabalhos que articulem os saberes das Ciências da Natureza. Um dos motivos que torna os dois assuntos bastante próximos, é que ambas precisam da participação, diálogo e comunicação entre os professores participantes. O estudo possui uma aplicação em ambientes reais de aprendizagem, o que permitiu avaliar a efetividade do artefato educativo. Com os resultados, há possibilidade de refiná-lo, ao mesmo tempo que a teoria pode ser aprimorada.

O trabalho resultou em no artigo 'A Pesquisa Baseada em Design: mapeamento de estudos relacionados ao Ensino das Ciências da Natureza", quie pode ser acessado através deste link.


Texto: Gabriela de Flores Neto / Jornalista
Fotos: Divulgação / Raquel Tamiosso