17/04/2019
Jornalista, feminista e empoderada, a crítica de cinema Bianca de França Zasso é egressa do Curso de Jornalismo da Universidade Franciscana, editora do site Formiga Elétrica, apresentadora do Bia na Toca e colunista do site Claudemir Pereira desde 2012. Formada em 2009, Bianca começou sua carreira ainda na graduação, como apresentadora do Programa Studio Rock, na UFN TV. Como repórter, escreveu para os jornais A Razão, e Diário de Santa Maria, atuou como jornalista responsável pela Revista da Sociedade de Medicina de Santa Maria (SMSM), e integrou a Assessoria de Comunicação da Associação de Apoio a Pessoas com Câncer (AAPECAN).
Como crítica de cinema, Bianca também escreve para o site Action News e Boca do Inferno. Bianca também integra um coletivo de mulheres críticas de cinemas, o Elviras, e faz parte da Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (ACCIRS). No programa Bia na Toca ela dá dicas de filmes, sendo colunista também da revista Società Magazine. Apaixonada pela 7ª arte, seus gêneros favoritos são cinema oriental, western, horror e cinema independente americano.
Texto: Thayane Rodrigues - estudante de jornalismo
Foto: Arquivo pessoal
O que te fez escolher o jornalismo?
Bianca: Eu sempre quis fazer jornalismo porque gosto muito de escrever e também de cinema. Eu pensava que na comunicação eu ia encontra o meu lugar para trabalhar com isso. Na verdade, acho que o que me fez escolher a profissão é porque eu gosto muito de gente, de histórias – sejam filmes, livros, quadrinhos, uma conversa, eu sempre gostei de ouvir as pessoas.
O que te motivou a optar por cursar a graduação na Universidade Franciscana?
Bianca: Antes de tentar o jornalismo, eu prestei vestibular para Artes Cênicas na Federal, e passei, mas acabei desistindo. Acho que foi a melhor escolha que eu poderia ter feito. A IES era uma referência para mim, e eu tive a sorte de integrar uma das primeiras turmas a utilizar o 7º andar do prédio 14, que abriga o estúdio de TV, rádio, a Agência de Notícias e na época, o laboratório de revelação fotográfica. Então eu pude conviver com praticamente todas as áreas de abrangência do jornalismo dentro da Universidade. Eu sempre brinco que o meu primeiro contato com o mercado de trabalho foi dentro da UFN, fazendo estágios e monitorias nos laboratórios. Foi o lugar onde eu comecei a descobrir o que eu podia fazer como jornalista, e com certeza a estrutura foi primordial para que eu chegasse no mercado bem mais preparada.
Quais são as lembranças que você mais gosta dessa época de graduação?
Bianca: A graduação foi uma das fases mais felizes da minha vida, foi um período de bastante trabalho, muitas descobertas, mas também uma fase onde fiz grandes amigos. Eu lembro da primeira Feira do Livro que fiz assessoria de imprensa, e foi maravilhoso, porque eu sempre frequentei, e de repente eu estava ali colaborando para o evento funcionar, foi incrível. Lembro das minhas primeiras entrevistas, o primeiro texto publicado, isso me marcou muito, e guardo com muito carinho. Eu tenho a honra de ser amiga de alguns professores até hoje. O Bebeto, além de ter sido meu orientador na graduação e na pós, é meu padrinho de casamento, um amigo que vou levar pro resto da vida. São muitas lembranças boas de uma fase muito feliz, e acho que essa fase reverbera até hoje na minha vida profissional. Tudo que vivi na UFN influencia até hoje no meu trabalho.
Quais eram as tuas expectativas quando você começou a graduação? Elas se mantiveram?
Bianca: Quando eu entrei no curso eu achava que trabalharia com o impresso, seria repórter de jornal ou de revista, e talvez com rádio. Eu queria escrever, nunca me imaginei trabalhar com televisão. Assim que eu saí da graduação eu comecei a trabalhar no jornal impresso da cidade, e aos poucos eu fui percebendo que não era aquilo que eu queria para mim. Na Universidade a gente tem muitas certezas, somos jovens cheios de sonhos, e aos poucos a gente vai se encontrando. Hoje, apesar de gostar muito do texto, eu tenho um programa no canal do Toca Audiovisual com o meu nome, o Bia na Toca.
O que te motivou a cursar a pós-graduação em cinema?
Bianca: Ainda na graduação eu já sabia que o meu tema da monografia seria o cinema, então eu trabalhei com uma análise comparativa entre o cinema japonês e faroeste americano. O cinema sempre foi a minha paixão, e isso nunca mudou. Eu só decidi cursar uma pós-graduação quatro anos depois de formada, e isso me trouxe muita coisa boa porque eu sempre soube que queria ter uma formação mais voltada para o cinema, dentro da comunicação. Hoje eu sou crítica de cinema e sempre costumo dizer que não sou crítica por ser uma cineasta frustrada, eu sempre quis fazer isso porque sempre me vi como mediadora entre público e filme, essa é a minha função.
Na tua área de atuação já te deparaste com algum tipo de preconceito por ser mulher?
Bianca: Enquanto repórter eu nunca tive problema, mas a gente sabe que existe, né? Eu senti isso quando fui para o mundo do cinema, pois eu integro um grupo chamado Elviras, que é um coletivo de mulheres críticas de cinema que quer mostrar que tem muita mulher pensando e escrevendo sobre cinema e mostrando o seu potencial, o Oscar desse ano foi muito importante por reconhecer isso. Eu sofri um pouco porque o tipo de filme ao qual eu dedico o meu trabalho são filmes de gêneros considerados masculinos. Eu sou a única mulher que escreve para o Blog Action News, que é só sobre filmes de ação, e já recebi comentários maldosos que em vez de elogiar o meu trabalho elogiam a aparência, mas eu procuro ser sempre profissional, e mostrar que sou muito mais do que isso.
Como você se sente quando é chamada para falar com acadêmicos sobre as tuas experiências?
Bianca: Eu sempre fico meio sem jeito porque acho que ainda sou muito jovem, mas ser chamada para falar sobre experiências é uma grande responsabilidade. Essa geração que está em formação agora é diferente da minha, que não tinha WhatsApp. Algumas coisas se perderam, como o olho no olho, a leitura mais apurada, saber o que está acontecendo e se questionar sobre tudo o que lê e vê. Eu sempre digo que ser jornalista não é simplesmente colocar a notícia no jornal ou no Facebook. Ser jornalista é pensar o mundo, conversar com as pessoas, conhecer as histórias dessas pessoas e transformar isso em uma matéria, reportagem ou livro, e isso exige dedicação, algo que nessa época da pressa, ás vezes se perde. Por isso eu sempre aconselho que frequentem o cinema, leiam livros de papel, e se dediquem, pois é essa bagagem que ninguém tira de vocês, e que nenhuma rede social proporciona.
Como é trabalhar com cinema?
Bianca: É a melhor profissão do mundo. O cinema é a paixão da minha vida, é ele que me move. Desde que comecei a escrever para o site do Claudemir, em 2012, eu aprendi muito sobre ter cuidado com o público, saber escolher com o que vou trabalhar, pensar no que eles consomem para poder trazer informações que sejam úteis. Integrar o coletivo Elviras eu também considero um divisor de águas na minha vida, porque eu tinha muita dificuldade de me assumir como crítica, e conhecer essas mulheres batalhadores me mostraram que o meu trabalho é importante. O Bia na Toca foi um convite dos meninos da Toca Audiovisual, e eu tenho muito carinho por esse projeto porque foi um desafio para mim, que tenho muita dificuldade de fazer vídeo, o que me motivou a aceitar foi o cinema, que me fez enfrentar o medo da câmera. E foi bom também porque as pessoas que conheciam meu texto conheceram também o meu rosto e a minha voz, e nas gravações eu aprendi a ser mais desenvolta, isso melhorou até o meu texto.
De que maneira você enxerga a tua trajetória até aqui, com 10 anos como jornalista?
Bianca: Eu acho que trilhei um caminho que não foi o mais fácil, eu recebi muitas críticas, mas não me arrependo. Eu tenho 32 anos e estou onde queria estar. Acho que cheguei em um lugar onde eu esperava chegar, e tudo o que passei no jornalismo enquanto repórter, assessora, colunista, tudo faz parte do meu texto, da minha fala, de mim. A Bianca que sou hoje precisou passar por todas essas fases para chegar onde estou agora, uma jornalista que acredita no humano, na conversa olho no olho, na arte como uma forma de salvação, e a minha função como crítica é abrir os olhos das pessoas para essa arte, mostrar que não é só entretenimento, mas que ela também salva, liberta, apresenta novos mundos.
E se você pudesse deixar um recado para quem está entrando agora na graduação, qual seria?
Bianca: Nunca a nossa profissão foi tão comentada, difamada, e ainda sim, tão importante. A gente vive num tempo onde muito se julga o jornalista, principalmente aquele que tenta trazer um viés que coloca as pessoas em dúvida, que mostra os dois lados, te faz pensar. Isso não é fácil, mas acho que em tempos como esse, onde ou se admira ou odeia um jornalista pelo que ele defende, nunca se precisou tanto de profissionais com vontade de contar histórias. Então, se você escolheu jornalismo, não pense que vai ser uma forma de se promover. Um jornalista de verdade conversa, experimenta diferentes realidades. Ser jornalista é contar histórias, não importa o formato, é uma profissão que influencia vidas e modifica destinos. Mas tenham responsabilidade, um texto depois de publicado é do mundo, e ele fala pela gente. Palavras tem poder, portanto, pensem, questionem, mudem de opinião, pois é preciso.